Por Mariângela Guimarães (RNW)
Nos anos 70, um episódio da ocupação holandesa no Brasil serviu de inspiração para que Chico Buarque e Ruy Guerra escrevessem a peça ‘Calabar: o elogio da traição’. O espetáculo foi censurado, mas suas canções ganharam popularidade na voz de diversos cantores e estão até hoje no repertório de muitos intérpretes. Entre eles a holandesa Josee Koning, que se interessou ainda mais por músicas como ‘Bárbara’ e ‘Tatuagem’ ao saber sobre a história da peça e do link com a Holanda. Dias 26 e 27 de agosto, ela se apresenta com a Orquestra Jazz Sinfônica no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, cantando as canções de ‘Calabar’.
Este projeto teve início num encontro com o maestro João Maurício Galindo, que a convidou para um trabalho com a Jazz Sinfônica. “Ele estava visitando a Holanda no ano passado, quis me convidar e perguntou o que eu gostaria de cantar, então eu disse por que não fazemos ‘Calabar’? E ele gostou da ideia”, conta Josee. “É interessante porque é uma parte da história holandesa que aqui quase ninguém conhece. No Brasil é mais conhecido do que aqui.”
Entre as músicas mais famosas da peça de Chico Buarque e Ruy Guerra estão ‘Tatuagem’, ‘Bárbara’, ‘Não Existe Pecado ao Sul do Equador’ e ‘Ana de Amsterdã’. Embora o enfoque seja nas canções de ‘Calabar’, para ter um show completo, Josee Koning também interpretará outras músicas de peças teatrais de Chico Buarque, como ‘O que será’ e ‘O meu amor’, do espetáculo ‘Gota d’Água’. A regência é do maestro Fábio Prado.
Koning já se apresentou várias vezes no Brasil, mas estes shows têm um sabor especial por serem com a Jazz Sinfônica: “Eu nunca cantei com uma orquestra tão grande. São 80 músicos, é muito grande. Eu estou muito feliz de poder fazer isso, e no Auditório Ibirapuera.”
Paixão pela MPB
Sua relação com a MPB teve início também nos anos 70. “Eu trabalhava com a KLM como aeromoça nos anos 70 e era baseada no Rio. E eu já cantava aqui na Holanda - cantava jazz, tinha uma banda com meu irmão, que é pianista -, mas lá no Rio eu conheci muitos músicos e me apaixonei pela música brasileira.”
De volta à Holanda, Josee deixou a KLM e foi estudar canto no Conservatório de Amsterdã, formando com o pianista Peter Schön o grupo Batida, o primeiro na Holanda a fazer música brasileira e com o qual teve muito sucesso nos anos 80, com três discos gravados e apresentações em vários festivais.
Mas foi quando o Conservatório de Hilversum a convidou para dar aulas de música brasileira que a cantora sentiu que ainda tinha que ir mais fundo na MPB e para isso precisaria passar uma temporada no Brasil. E partiu para o Rio de Janeiro, em 89 e 90, com uma bolsa do governo holandês. Voltando à Holanda, passou a lecionar no Conservatório de Roterdã, onde ainda dá aulas de música brasileira.
Encontro com Tom Jobim
Hoje, Josee Koning trabalha frequentemente com grandes músicos brasileiros, mas o encontro que marcaria sua carreira aconteceu graças a um convite da televisão holandesa. “Eu tenho muita sorte, me sinto muito privilegiada. Eu recebi um convite da televisão holandesa pra ser entrevistada lá no Rio e quando chegamos lá a repórter falou, por que não vamos entrevistar um músico bem conhecido, qual você prefere? E eu falei: Jobim. E aconteceu. Num dia entramos na casa do Jobim e eu quase chorei. Foi uma coisa muito importante na minha carreira, ele olhando pra mim, querendo trabalhar, tocando ao piano e me convidando pra sentar do lado dele e cantar, e eu não podia cantar porque a garganta estava fechada, eu chorei de tanta emoção.”
Um ano depois, ela fechava um contrato com a Sony Music para gravar um disco só com canções de Tom Jobim, com a participação do compositor. “O projeto estava pronto, mas infelizmente ele faleceu. Então fui procurar o Dori Caymmi e ele falou que queria fazer o projeto como um tributo ao Tom. E este começo deu um impulso à minha carreira.”
Hoje, a música brasileira é bastante popular na Holanda, e em grande parte, graças a Josee Koning. “A situação mudou muito. Como eu falei, eu fui a primeira aqui na Holanda a cantar música brasileira, e agora as minhas alunas estão fazendo sucesso com música brasileira, o que me dá muito orgulho.”
*As apresentações de Josee Koning e Orquestra Jazz Sinfônica acontecem dias 26 e 27 de agosto no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Ingressos: R$30 e R$15.








0 comentários/comente ...:
Postar um comentário